Pesquisadores desenvolvem terapia pioneira com proteína da placenta que promete restaurar movimentos em pacientes com lesão medular
Nos últimos anos, o tratamento da tetraplegia – condição que causa paralisia parcial ou total dos quatro membros – tem avançado de maneira significativa, mas, até o momento, ainda carecia de soluções capazes de devolver mobilidade de forma sólida aos pacientes tetraplégicos.
Independentemente se a tetraplegia foi adquirida após alguma lesão traumática (como acidentes de carro, quedas e mergulhos) ou não traumática (no caso de tumores, doenças neurológicas ou infecções), um fato é que a dependência de cuidados contínuos, a limitação nas atividades diárias e a diminuição da qualidade de vida ainda são desafios que afetam milhares de brasileiros tetraplégicos.
Diante desse cenário, uma equipe de pesquisadores brasileiros desenvolveu um medicamento experimental baseado em proteína da placenta, capaz de estimular a regeneração de conexões nervosas em indivíduos com lesão medular, oferecendo uma nova esperança para pacientes e familiares.
O desenvolvimento dessa terapia começou com estudos pré-clínicos em animais, principalmente cães que apresentavam tetraplegia. Os resultados surpreenderam a equipe: os animais recuperaram parcialmente movimentos perdidos, com melhora na coordenação motora e capacidade de realizar atividades simples do dia a dia.
Esses achados motivaram a transição para os primeiros testes em humanos, abrindo caminho para uma das pesquisas mais promissoras no campo da neurociência aplicada à reabilitação motora.
Como o medicamento atua no corpo
O medicamento utiliza uma proteína derivada da placenta que possui propriedades regenerativas, neuroprotetoras e anti-inflamatórias. Seu mecanismo de ação é bastante complexo, envolvendo múltiplos processos biológicos:
- Regeneração de fibras nervosas: a proteína estimula a reconexão dos neurônios afetados pela lesão, criando novos caminhos para a transmissão de sinais entre o cérebro e os membros, uma função fundamental para recuperar movimentos voluntários;
- Redução da inflamação: a substância também atua na diminuição do processo inflamatório desencadeado pela lesão medular, prevenindo outros danos e aumentando a viabilidade do funcionamento celular;
- Estímulo funcional contínuo: ao interagir com os neurônios remanescentes, a proteína contribui para que os músculos antes paralisados comecem a responder novamente aos comandos do sistema nervoso.
Além disso, o medicamento também complementa tratamentos de fisioterapia intensiva, potencializando os ganhos motores e acelerando a adaptação do paciente às novas capacidades de movimento recuperadas.
Primeiros resultados em pacientes humanos
O paciente Bruno Drummond de Freitas, que ficou tetraplégico após um acidente automobilístico em 2018 aos 23 anos, foi o primeiro a receber a medicação em testes clínicos. O acompanhamento da equipe médica mostrou avanços significativos em poucas semanas:
- Recuperação parcial de movimentos nas mãos, dedos e braços;
- Melhora da postura ao sentar;
- Aumento da força em músculos antes debilitados;
- Maior autonomia em atividades básicas, como segurar utensílios, manipular objetos e realizar tarefas simples do cotidiano.
Impacto na rotina e qualidade de vida
Esses resultados ainda são preliminares, mas indicam que a terapia não apenas promove ganhos clínicos, mas também impacta a vida prática do paciente, aumentando a sua independência, autoestima e participação social, fatores essenciais para uma boa qualidade de vida.
Os efeitos do medicamento refletem diretamente no cotidiano dos pacientes:
- Autonomia aumentada: pequenos movimentos, antes impossíveis, se tornam viáveis, e permitem maior independência;
- Redução da dependência de cuidadores: a retomada parcial da mobilidade diminui a necessidade de assistência contínua e integral, liberando tempo e recursos para outras atividades;
- Inclusão social e profissional: a recuperação de funções motoras facilita um maior engajamento em atividades escolares, comunitárias ou de trabalho, aumentando o sentimento de pertencimento e melhorando a autoestima;
- Impacto emocional positivo: a esperança de recuperar movimentos gera motivação para seguir terapias de reabilitação e adotar hábitos mais saudáveis, melhorando a saúde mental do paciente e de seus familiares.
Como a pesquisa brasileira se destaca
O medicamento representa um marco científico nacional, sendo um fruto da colaboração entre universidades, institutos de pesquisa e hospitais, e demonstrando a capacidade do Brasil de produzir soluções inovadoras em saúde.
O estudo também é acompanhado de perto por órgãos regulatórios, o que garante que os protocolos de segurança, ética e eficácia sejam rigorosamente seguidos.
Além disso, a abordagem com a proteína da placenta abre novas possibilidades para tratar não apenas tetraplegia, mas outras lesões neurológicas, como paraplegia e lesões medulares incompletas, ampliando o impacto da pesquisa na medicina regenerativa brasileira e mundial.
Próximos passos e desafios
Apesar dos resultados promissores, a terapia ainda está em fase de testes clínicos. Para chegar a conclusões mais assertivas e seguras para a produção e distribuição do medicamento, será preciso:
- Ampliação do número de participantes: aumentar a amostra para validar a eficácia em diferentes perfis de pacientes;
- Acompanhamento de longo prazo: avaliar a durabilidade dos efeitos e possíveis efeitos adversos ao longo do tempo;
- Integração com reabilitação: combinar a medicação com fisioterapia, terapia ocupacional e suporte psicológico para maximizar ganhos;
- Regulamentação e aprovação comercial: obter aprovação de órgãos de saúde para disponibilizar o medicamento de forma segura à população.
Especialistas destacam que, mesmo não se tratando de uma cura definitiva, o medicamento transforma a perspectiva de vida de pacientes tetraplégicos, criando a possibilidade de um futuro em que a mobilidade parcial ou total pode ser recuperada, algo antes considerado impossível pela medicina.
O futuro da mobilidade para tetraplégicos
O desenvolvimento desse medicamento brasileiro reforça a importância de investir em pesquisas de ponta, políticas públicas de saúde e programas de reabilitação.
A esperança gerada pelos primeiros resultados clínicos demonstra que avanços científicos concretos podem mudar radicalmente a vida de pessoas com deficiência, reduzindo limitações e ampliando as oportunidades de ter mais autonomia e qualidade de vida.
