O Brasil mantém sua posição de destaque no cenário mundial de transplantes, tendo realizado mais de 14 mil procedimentos apenas no primeiro semestre de 2025. Apesar dos avanços, cerca de 50 mil pessoas ainda aguardam na fila por um órgão. Este guia completo explica tudo sobre doação de órgãos no país.
Como Funciona a Doação:
A doação de órgãos no Brasil segue a legislação do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). O processo só ocorre após:
- Diagnóstico de morte encefálica confirmado por dois médicos;
- Autorização expressa da família;
- Avaliação de compatibilidade entre doador e receptor;
- Órgãos e Tecidos Transplantáveis:
- Órgãos: coração, pulmões, rins, fígado, pâncreas;
- Tecidos: córneas, pele, ossos, válvulas cardíacas.
Mitos e Verdades: Desvendando as Principais Dúvidas sobre Doação de Órgãos
Muitas dúvidas e receios que cercam a doação de órgãos são baseados em desinformação. Esclarecê-las é fundamental para que as pessoas possam tomar uma decisão consciente. Abaixo, detalhamos alguns dos mitos mais comuns.
- Mito 1: “A doação de órgãos atrasa ou impede a realização do velório, e o corpo fica deformado.”
A Verdade: Este é um dos mitos mais persistentes e também um dos mais prejudiciais. A realidade é completamente diferente:
Procedimento Cirúrgico de Respeito: A retirada dos órgãos e tecidos é um procedimento cirúrgico realizado com o mesmo cuidado e respeito de uma cirurgia em um paciente vivo. As incisões são fechadas com técnica precisa, e o corpo é preparado para o velório normalmente. Não há deformação visível.
Celeridade e Coordenação: Todo o processo de doação é extremamente ágil e coordenado entre as equipes médicas e os familiares. Não há atrasos significativos na liberação do corpo para a família. A logística é planejada para respeitar o luto e os planos funerários.
Por que esse mito existe?
A origem provável está no desconhecimento sobre como o processo é realizado. Por ser um tema delicado e que muitas vezes as pessoas não buscam informações detalhadas, ideias equivocadas sobre o que acontece no ambiente hospitalar se perpetuam.
- Mito 2: “Pessoas com condições de saúde pré-existentes, como diabetes ou hipertensão, não podem ser doadoras.”
A Verdade: Ter uma doença crônica não é um impeditivo automático para a doação. A avaliação é muito mais complexa e individualizada.
Avaliação Criteriosa por Órgão: A equipe médica especializada avalia a condição específica de cada órgão ou tecido. Por exemplo:
Uma pessoa com diabetes bem controlada pode, perfeitamente, ter fígados, córneas, pele ou ossos em condições ideais para doação.
O coração e os pulmões de um doador que foi hipertenso podem não ser viáveis, mas seus rins, fígados e tecidos podem estar perfeitamente saudáveis e salvar outras vidas.
Cada Caso é um Caso: A decisão final sobre a viabilidade de um órgão só é tomada após exames específicos no momento da doação. Muitas condições de saúde não comprometem a função de todos os órgãos.
Por que esse mito existe?
As campanhas públicas frequentemente destacam a importância de hábitos saudáveis para se ter “órgãos saudáveis”. Isso pode levar à interpretação errônea de que apenas pessoas que nunca tiveram nenhum problema de saúde podem doar, o que está longe de ser verdade.
- Mito 3: “Se eu for um doador registrado, a equipe médica não se esforçará para salvar minha vida em uma emergência.”
A Verdade: Este é um mito muito grave e que causa medo injustificado.
Equipes Diferentes, Objetivos Diferentes: Os profissionais que trabalham para salvar a vida de um paciente (médicos intensivistas, cirurgiões, enfermeiros da emergência) são completamente distintos da equipe que cuida da captação de órgãos. A primeira prioridade de qualquer médico é sempre preservar a vida.
A Doação Só é Considerada após a Morte Encefálica: A possibilidade de doação só é avaliada após dois exames clínicos realizados por diferentes médicos, que atestam de forma irreversível a morte encefálica – ou seja, quando não há mais nenhuma chance de recuperação. A equipe de transplantes é acionada apenas após essa constatação legal de óbito.
Por que esse mito existe?
Esse medo é alimentado por séries de TV e filmes que, para criar drama, mostram situações distorcidas da realidade médica. Na prática, o código de ética médica e a legislação brasileira são muito claros em priorizar a vida acima de tudo.
- Mito 4: “Minha religião proíbe a doação de órgãos.”
A Verdade: A grande maioria das religiões principais no Brasil apoia e considera a doação de órgãos um ato de amor e solidariedade.
Apoio Majoritário: Igrejas Católica, Evangélicas de diversas denominações, Espírita, Budista, entre outras, veem a doação como um gesto de caridade e compaixão, perfeitamente alinhado aos seus princípios.
Consulte seu Líder Espiritual: Em caso de dúvida específica sobre a interpretação de um dogma, a recomendação é conversar diretamente com o líder religioso de sua confiança. A esmagadora maioria encoraja o gesto.
Esclarecer esses pontos é crucial para que a decisão sobre ser um doador seja baseada em fatos, e não em temores infundados. A doação de órgãos é um ato de extrema generosidade, e a informação correta é o primeiro passo para salvar vidas.
Desafios e Avanços:
O país enfrenta desafios como a necessidade de aumentar as doações e modernizar o sistema. Novas medidas anunciadas em 2025 incluem:
- Digitalização do processo de captação;
- Campanhas de conscientização ampliadas;
- Investimento em capacitação de profissionais.
Como se Tornar um Doador:
- Converse com sua família sobre seu desejo;
- A doação só ocorre com autorização familiar;
- Não é necessário registro formal em cartório.
A doação de órgãos representa a chance de recomeço para milhares de brasileiros. Um simples gesto pode transformar múltiplas vidas.