A crença de que vacinas podem “derrubar” a imunidade ainda persiste. Mas será que isso é verdade?
A primeira vacina da história foi desenvolvida no século XVIII pelo médico franco-inglês, Edward Jenner, nascido em 1749.
Conhecido como “pai da imunologia” no Ocidente, Jenner vivia numa época em que a varíola era uma séria questão de saúde pública e em que 60% da população foi contaminada por ela, e 20% foi dizimada por conta de sua proliferação.
A varíola é uma doença infecciosa, altamente contagiosa e bastante mortal, causada por um vírus que gerava lesões na pele e mucosas, e a transmissão da doença acontecia através do contato com essas feridas.
Quando era criança passou pelo processo de variolação, uma prática antiga que consistia na inoculação do material da varíola em pessoas saudáveis para tentar induzir uma forma mais leve da doença e, assim, criar imunidade a ela. Mas no caso de Jenner esse processo causou problemas de saúde que permaneceram pelo resto da vida.
Dos 14 anos aos 21, em 1771, Edward se tornou aprendiz de dois diferentes cirurgiões que lhe ensinaram anatomia de maneira aprofundada – o que lhe propiciou seguir a mesma carreira – e, posteriormente, também passou a se interessar pela zoologia e desenvolveu estudos que fizeram até mesmo Charles Darwin, criador da Teoria da Evolução Biológica por Seleção Natural, revisar uma edição posterior de sua obra mais famosa, ‘A origem das espécies’.
A junção desses dois conhecimentos e o entendimento sobre a transmissão de doenças entre espécies teve um papel essencial em seu primeiro experimento para a descoberta das vacinas.
Como Edward Jenner pensou para desenvolver a vacina contra varíola humana?
Foi por meio da observação de uma cena cotidiana que Edward Jenner começou a pensar sobre como o vírus agia e como ele poderia ser combatido. Jenner percebeu que jovens mulheres ordenhadeiras que viviam na zona rural da Inglaterra contraíam a varíola bovina ( a forma leve da doença) e não desenvolviam a varíola humana, uma doença altamente letal na época.
Essa observação levou ao seu experimento em 1796, quando o médico inoculou o vírus da varíola bovina em um menino de 8 anos chamado James Phipps. Quando o garoto foi exposto à varíola humana, teve alguns sintomas como febre e mal-estar, mas não desenvolveu a doença; ele havia adquirido a imunidade cruzada.
A comunidade médica da época discutiu por um longo tempo antes de aceitar suas teorias e, em 1840, o governo britânico providenciou a vacinação da população com varíola bovina de forma gratuita. Em pouco tempo, a vacina de Jenner já havia se espalhado por diversos países da Europa.
Graças a essa invenção que mudou o rumo da humanidade, a enfermidade foi considerada erradicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1980, após uma ampla campanha de vacinação mundial ocorrida nas duas décadas anteriores.
Como as vacinas são produzidas atualmente?
Hoje em dia, as vacinas são desenvolvidas através de um processo complexo e extremamente rigoroso que envolve várias etapas:
- Pesquisa pré-clínica: estudos laboratoriais e em animais avaliam a segurança e a resposta imunológica do candidato à vacina;
- Ensaios clínicos em humanos: divididos em três fases, esses ensaios testam a segurança, a eficácia e a dosagem adequada da vacina em voluntários;
- Aprovação regulatória: as agências de saúde analisam os dados dos ensaios clínicos para aprovar o uso da vacina;
- Produção e distribuição: após a aprovação, a vacina é produzida em larga escala e distribuída para a população
Instituições como o Instituto Butantan, no Brasil, desempenham um papel fundamental nesse processo, desenvolvendo e produzindo vacinas para diversas doenças, como dengue, gripe e COVID-19.
Mitos sobre a vacinação
Embora as vacinas tenham eficácia comprovada pela comunidade médica e científica, a desinformação sobre vacinas leva diversas pessoas à hesitação no momento de se vacinar, o que contribui para o ressurgimento de doenças antes controladas. Vamos esclarecer alguns dos mitos mais comuns:
- Vacinas enfraquecem o sistema imunológico: vacinas fortalecem o sistema imunológico, preparando-o para combater agentes infecciosos específicos;
- Vacinas causam autismo: diversos estudos científicos comprovaram que não há relação entre vacinas e autismo.
- É melhor adquirir imunidade pela doença do que pela vacina: a imunidade adquirida pela vacina é segura e eficaz, sem os riscos associados à doença natural;
- Vacinas causam doenças graves: reações adversas graves são extremamente raras. Os benefícios da vacinação superam em muito os riscos;
- Pessoas saudáveis não precisam se vacinar: mesmo pessoas saudáveis devem se vacinar para manter a proteção do organismo;
- Vacinas contêm microchips ou alteram o DNA: essa é uma desinformação sem base científica. Vacinas não contêm microchips e não alteram o DNA humano.
- Vacinas causam infertilidade: não há evidências científicas que associem vacinas à infertilidade.
- É perigoso tomar várias vacinas ao mesmo tempo: é seguro administrar múltiplas vacinas simultaneamente, conforme orientações médicas.
- Vacinas não são necessárias para doenças erradicadas: a vacinação contínua é essencial para prevenir o ressurgimento de doenças erradicadas.
- Vacinas causam gripe: a vacina contra a gripe é feita com vírus inativados e não causa a doença.
A importância da vacinação para a saúde pública
Manter a vacinação em dia é fundamental não apenas para a proteção individual, mas também para a saúde coletiva. A imunização em massa contribui para a erradicação de doenças e evita surtos epidêmicos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as vacinas salvam entre 2 a 3 milhões de vidas por ano em todo o mundo.
O LeAll desvendou: é um boato que vacinas enfraquecem o sistema imunológico. Na realidade, elas são ferramentas essenciais para fortalecer nossas defesas e prevenir doenças graves.
Manter a vacinação em dia é um ato de responsabilidade consigo mesmo e com o próximo.
